quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

0

Recordo-te como eras...

Recordo-te como eras... 

 Recordo-te como eras no outono passado. 
Eras a boina cinzenta e o coração em calma. 
Nos teus olhos lutavam as chamas do crepúsculo. 
E as folhas caíam na água da tua alma. 

 Fincada nos meus braços como uma trepadeira, 
as folhas recolhia a tua voz lenta e em calma. 
Fogueira de estupor onde a minha sede ardia. 
Doce jacinto azul torcido sobre a minha alma. 

 Sinto viajar os teus olhos e é distante o outono: 
boina cinzenta, voz de pássaro e coração de casa 
para onde emigravam os meus profundos desejos 
e caíam os meus beijos alegres como brasas. 

 Céu visto de um navio. 
Campo visto dos montes: a lembrança é de luz, 
de fumo, de lago em calma! 
Para lá dos teus olhos ardiam os crepúsculos. 
Folhas secas de outono giravam na tua alma. 

 Pablo Neruda Poema nº 06

Nenhum comentário:

Postar um comentário

**************Seja Bem Vindo(a)! Deixe seu comentário ou sugestão. Obrigada